sábado, 28 de dezembro de 2013

Alegres navegantes

 


Existem três tipos de pensadores.

Aqueles que têm certezas e lutam por elas, sofrendo ao longo da vida um desgaste próprio dos que brigam.

Aqueles que estão certos da impossibilidade das certezas e sofrem com essa constatação, passando os dias, geralmente, mergulhados em melancolias.
 
E finalmente, aqueles que sabem das incertezas e se divertem com dúvidas. Não se angustiam.

Pensam tranquilos, nas infinitas possibilidades de tudo. Adoram fazer perguntas para si e para os que como eles, navegam.

Respondem-se, perguntando. Acalmam a mente e no espaço natural, criado ou não pelo homem, ouvem sua voz interior e a voz de outros que vieram antes e durante. Dialogam, muitas vezes em silêncio.

E quanto às certezas só temos de três: A gente nasce, morre e nesse curto tempo, entre o nascer e morrer temos a chance de desvendar e desfrutar mundos – interior mesclado com  exterior - a cada mágico segundo.

 
Feliz 2014!
 
Tudo
não passa
desse instante
 
tudo
 
a vida
e antes.

*********************


All
does not pass
this moment
all
life
and above.
 

sábado, 21 de dezembro de 2013

Mergulho na rosa rubra

Cris Bastos
 
 
O miolo
da rosa
 
(de óculos
escuros)
 
não teme
o despetalar.
 
No perfumado
rubro
 
vive
eterno,
 
 profundo.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Humildades


 

A Humildade existe em várias faces e facetas.

Tem a humildade falsa que estampa os textos ou frases e se limita para não se vangloriar, ainda que o que queira quem a possui, seja mais um afago, mais um elogio, mais um dizer; você é demais e ainda por cima é humilde.

Tem a humildade insegura, aqueles que não sabem mesmo se o que fazem ou o que são, agrada aos outros ou agrada a si mesmo e vivem perguntando: mas você gostou mesmo?

E finalmente, tem a humildade verdadeira que vejo da seguinte forma:

Você cria. Você é e gosta.

Você partilha, divide, faz contato e gosta.

Você não se vangloria porque não existe razão para se vangloriar, porque não existe nada que justifique o vangloriar-se. É perda de tempo.

Você sabe que se se acomodar na glória, vai interromper um processo de crescimento pessoal.

Ainda que você goste do que é e faz, você consegue gostar do mesmo tanto, do que outros são e fazem. Você elogia o elogiável. Não senta no convencimento de sua obra, seja ela de que área for, como se fosse a maior bunda do mundo. Reconhece defeitos, erros e o que pode, modifica. Não se irrita com críticas, quando legítimas. Rodeia-se de bons amigos-professores. Prossegue irremediavelmente justo.

Essa a meu ver é a humildade natural que todo ser humano possui, mas poucos a exercem.

O resto é ilusão.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

é o mar é o mar é o mar


Do porto
inventei o mar

no mar
o papo foi outro
inventei um porto

de volta
nada é pouco

o mar é o mar.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Perdoo


Natal, Fim de Ano... Dizem que é uma época onde devemos perdoar. Pensei muito e nesse ano que passou só tem uma pessoa que gostaria de perdoar: eu mesma.
Me perdoo por ter sido tão briguenta (tenho lá minhas razões, mas não é época de ficar explicando), me perdoo por ter sido impaciente, ter ficado irritada (as bobagens aumentaram, mas não é o momento de dizer isso), me perdoo por falar demais, não me calar na hora certa ou me calar na hora errada. Me perdoo por de vez em quando alucinar e não dizer coisa com coisa, nem mesmo pra mim. Me perdoo por duvidar de quase tudo e acreditar em fadas. Me perdoo por esquecer de abrir minha caixa de e-mails e deixar de comparecer a um monte de eventos chatos (não todos) e necessários para manter a política da boa vizinhança.
Me perdoo por achar que ainda é possível um despertar coletivo e ficar citando Jung, I Ching e Buda a toda hora. Me perdoo por ser romantica, idealista e de vez em quando me sentir na beira de um precipício com os pés e mãos amarrados. Me perdoo por me lançar no abismo e depois voltar, estraçalhada, mas cheia de novas perguntas e paisagens. Me perdoo por insistir em ser eu mesma, e o meu “eu mesma”, mudar a toda hora. Me perdoo enfim, e como é de praxe, me abraço.
Agora vou fazer a mala e me preparar para me curtir no mar. Um lindo natal e ano novo para todos que estiveram pertinho nesse ano! Ah... E perdão por esse texto tão longo.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Tia (:


Para os queridos jovens, gostaria de desabafar ...

Primeiro não sou tia, a não ser que sua mãe ou pai sejam irmãos dos meus, pai ou mãe. Ou você, tenha sido criado como sobrinho (a), abrindo minha geladeira pelas manhãs durante bons e longos anos.  Chamar uma pessoa mais velha de tia minimiza o valor que uma verdadeira tia tem na sua vida. Dá a sensação de que você não sabe o nome da pessoa com quem fala, afinal: “passou dos 40... Pra que saber?”.

Afasta a pessoa com quem você conversa.

Cria um clima sutil agressivo, desinformado e sem brilho - e sutil conformado.

Se você prestar atenção, com suas verdadeiras tias, você usa o nome delas, além da “tia”.

Nós, as pessoas mais velhas que vocês, não estamos doentes. Não é nossa culpa o tempo.

Ser jovem não é um dom, é uma contingência e infelizmente passa.

 Ser jovem, interiormente, é possível e se você ficar atento às nuances da vida é mais provável.

Então... Por favor... Tia a puta que pariu!

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Arma margarida


Pelo nefasto
passeio

com meu vestido
de margaridas...

   Não assim
   tão distraída.

Flechas
não me ferem

o escudo
é leveza

perfume
do instante

clareza.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Papo niilista




A democracia é uma droga, mas não existe nada melhor e viável, então nos resta conviver e aceitar. A velhice é uma merda, mas não existe cura, existem maneiras de conviver com ela. As religiões são todas absurdas, mas se algumas pessoas precisam delas, só nos resta conviver com elas... Religião e pessoas.  Chego a conclusão de que viver é um ato de conformismo ... Os que morrem jovens, não passam por esse vexame.

A única coisa que nos dá a sensação de estarmos fazendo algo contra o conformismo é o mergulho em qualquer atividade que abraçamos com pele e alma. Seja a arte, meditações, pesquisas profundas em qualquer área, etc.

Ainda assim, de vez em quando, a sensação pura da inutilidade de tudo, nos dá um soco na cara. E como um boxeador caído, nessas horas temos duas escolhas: continuar no chão ou respirar fundo e encarar o próximo, talvez último, round.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Deslimite


 
Cercas brilham
quando são
ignoradas
 
amam corças
e crianças
 
levadas
por pernas
longas
 
e deslimites.

sábado, 23 de novembro de 2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Farsa do punho

 
Aquarela de Ivanda Lucia Oliveira




A tola
farsa
safa-se
alegórica?

Uma boa farsa
tem um que
que leva a crer

quem de nada entende...
patina superficialmente

cuem
quem
cuem

tem
cachaça
na lagoa

o pato
tonto


cobra
de punho
fechado

e chama
de tromba amiga
cuem

o pato
é devorado...

quem partiu
-
se

partido
ficou

nesse punho
fechado do agora
nunca coube flor

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Cara pálida



Evoco a primavera
tenho cara desperta
uma índia me ri

invade-me
uma índia com
cara de guerra...                                                      
 
 
    

                                                                                
Veio o frio
de um amarelo pardo
cor de burro amansado...

Fazer o burro negar
guerreiro
a carga milenar...

Fazer cor                                                                 
que chama o touro
chama a luta
chama.

Nega
a certeza da queda
a lei
a gravidade

nega!

Se tudo é farsa

    revela fada
    desafia e plana
    guerreia pluma
    resiste fera

                               s e m t r a m a s s u m a

Foi uma índia
foto que vi

e tenho pele
de branca

manca de milhões
de primaveras...


Nas fotos -  Criança e Princesa Isabel, a mais velha índia da aldeia pataxó de Barra Velha - BA

A caverna de Clarice - uma novela em muitos capítulos


 

Essa é uma obra de ficção. Semelhanças com minha vida não são mera coincidência.

 
I


A poeta anda confusa... Com tudo... Quase todos... Fazia tempo que não sentia esse desânimo com a superfície do mundo. Vinha trafegando por ela como alguém que no início teve que tomar um remédio amargo e aos poucos até passou a achar gosto belo.  Saia... Pintava os lábios, voltou a sonhar com abraços... Se perguntada, deitada na cama, olhando o teto, não saberia dizer a hora exata em que o mel virou fel. Ela abre a janela do quarto... O céu é de um azul que venta.  Escreve um bilhete pra filha: tem macarrão no forno, te amo. Fecha os olhos e se dirige para a caverna. Sabe que estocou pensamentos para muitas vidas.  Abre a porta, nenhum cômodo está empoeirado e lentamente hiberna...

18/11/2013
 
 
II
 

A caverna tem uma luz natural que vem do teto. Uma pequena abertura que lhe permite folhear lembranças. A sala das recordações não tem cheiro de mofo. Ela senta e com as mãos desenha o passado no ar.  Se vê, saia longa, tranças, em meio a um grupo de amigos que gritavam em alto falantes, pedindo as diretas já... 1º de junho de 1984...
Era dia do seu aniversário. Não sonhava festa melhor... “Um dia é do caçador... o outro é da caçarola... Abre a janela... bate panela”... Lembra que imaginava como seria doce votar. Ela sonha com um país socialista... Muitos amigos em Cuba... Alguns em guerrilhas... Os quadros da memória pulam sem sequencias. Lembra-se da decepção e da espera... Mais cinco anos para estar frente às urnas... Ela tremia... O gosto de escrever o nome do homem que nunca seria eleito, Roberto Freire, e que depois, como outros que viriam, a decepcionaria... Por um tempo fica imaginando porque, entre tantas memórias, essas foram as que vieram primeiro...
Não se importa, sabe que voltará a esse cômodo e se prepara para ir à sala das dores...
     
 
19/11/2013  
            


III


Enquanto caminha, percebe que já escureceu. A luz que vinha do teto foi substituida por pequenas estrelas.  Sabe que lá fora um dia se passou e tenta imaginar motivos para voltar. A filha está viajando, ela lembra, e mergulha mais fundo na caverna. Pensa ter ouvido uma voz, mas não, estava distante... Talvez em outro tempo.
Os corredores estão lotados. É uma bagunça que agrada aos olhos.  Lembra-se da última vez que esteve aqui, não havia tantos desenhos, fotos, versos, rabiscos, espalhados pelo chão. Ela encontra uma caderneta com os nomes que gostaria de ter tido. Folheia. Escolhe o primeiro, mastiga. O papel tem o gosto do giz que ela costumava comer na escola até um dia, vomitar... Na caverna será Clarice.
Decide abrir as portas dos cômodos e derrubar as paredes. Não há mais separação entre os sentimentos...

 
20/11/2013


 

IV

 
O chão da caverna não é liso. Agora, sem as paredes que separavam emoções, Clarice percebe a imensidão.  Minha terra do nunca, ela ri... Um riso que some ao perceber que lá dentro, coisas envelheciam... O gosto do papel engolido, com seu novo nome, agora adquiriu um sabor metálico. Sentada ela revira desenhos. Alguns se desfazem em seus dedos... Estão velhos, muito velhos... Clarice fecha os olhos já fechados e vomita. Seu corpo treme, esperava a eternidade no abrigo... Um pequeno desenho resiste ao seu toque... 1982... Lembra... Foi quando conheceu o homem que seria seu marido e que por 27 anos dividiria a viagem.  O desenho, um nanquim aquarelado onde o casal, traço infantil, está sentado num tronco... Cabeças juntas, olhando a cachoeira... Tororó, ela diz em voz alta e o eco que volta é grave... A memória do tempo com esse homem é feita mais de estrada do que cama. On the roads eram os dias... Clarice não sabe, mas aquele que está escondido nas sombras vê seu rosto brilhar. Na hora certa, talvez ele se apresente.  Ela decide ficar mais um dia...
Encosta a cabeça na almofada que um dia bordou e sonha que dorme...
 
 
21/11/2013
 
 

V
 

Quando acorda, pensa em  fazer o café forte de toda manhã. Leva alguns segundos para lembrar onde está. Terá café na caverna?  Clarice não sabe quanto tempo se passou, mas as pequenas estrelas foram substituidas por fiapos de luz que agora formam desenhos no chão craquelento.  Procura os cigarros no bolso, o que veste é uma camisola azul... Sem cigarros não dá... Lamento baby, mas sem eles interrompo a viagem... ri. Ela se lembra de quando começou a fumar e de como uma vez tentou parar... Conseguiu e também conseguiu ficar quase um ano sem escrever o que quase a matou, de tédio e desânimo.  Encontra os cigarros numa estante de madeira, acende com alívio.  Decidi fazer uma caminhada, explorar a caverna que agora está modificada sem as paredes que separavam os comôdos. Não se lembrava de como era imensa...

Resolve trocar de roupa, apesar de achar que estava sozinha na caverna que tinha criado... Encontra uma calça de moleton azul, uma camiseta azul e o tênis velho de camurça. Está pronta para a exploração.  Em algum ponto de sua mente passa a lembrança de que tinha planejado despertar na cama. Que dia será hoje? De repente não se importa mais, reencontrou sua caverna, sua caverna e sabe que precisa continuar. Começa a caminhar e quase tropeça na garrafa.  O que a fez não derrubar a garrafa quente de um café novo, foi a voz que ouviu....de longe...muito longe... Mas ela entendeu as palavras – Bem vinda de volta –

Sente um calafrio, abaixa, vê o bilhete. “Um café forte pra sua jornada" A letra não era sua, não... não mesmo... De repente ela sabe que não está sozinha...
 
23/11/2013


VI

 

A letra do bilhete lembra caracteres dos péssimos filmes, baseados na obra do Sthepen King. Clarice era poeta, não escreveria obras longas...não...não senhor, gostava dos escritos concisos, mas Stehepen King? Esse era mestre, a acompanhou em muitas entediantes viagens de carro e ônibus. “IT”, o que ela mais gostava, havido lido e relido.  Sim, a letra no bilhete tinha uma escrita curva, sombria...Não era sua, não mesmo. Pensou se um dia teria tentado imitar esas letras, fizera tantas coisas, mas não...quando começou a escrever já foi logo pra máquina, a primeira uma vermelha, ela não gravou o nome, ainda a tem, talvez em algum canto da caverna e sua querida, uma preta praxis 20, adorava a letra courier. Aquele bilhete era escrito a mão, ainda tinha cheiro de tinta. Ela o tocou, estava úmido. Quem ou o que o tivesse escrito não poderia estar muito longe. Clarice sentiu arrepios... Como assim? É minha caverna...minha. Nunca ninguém esteve aqui comigo e fui eu que a criei...
Por instantes ela sente uma onda de terror e então se lembra de que é só acordar e estará na cama, sua cama quentinha, seu cobertor, a filha que deve chegar de viagem, seu projeto para o próximo livro...sim...é só acordar... Então ela tenta... Fecha os olhos e diz em voz alta: quero estar na cama...sente um vento frio...abre os olhos e continua na caverna. Um momento de puro terror a invade. Tenta de novo, dessa vez com mais firmeza, mais séria... Toca o chão , ainda é craquelento. Então ela chora... Estou presa dentro de mim, diz e o som dessas palavras a faz rir. Quem foi o maluco que disse que a loucura se desfaz no exercício da razão, Bertrand Russel, talvez... Ela decide que só está nervosa, só muito nervosa... Abre a garrafa de café, enche uma chícara com desenho de coruja e se prepara para beber.
 
25/11/2013
 

domingo, 17 de novembro de 2013

Hoje pintei o domingo ...de novo...



 
 
Asa
só pesa
quando molha

Gente
quando
é ave
  
olha de paz
para o sol
 
Seca
e mergulha
 
 na onda
das nuvens.

Hoje pintei o domingo



Posso
sumir
agora

nesse
movi (e)
mento

a direção
é minha

monologolento.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Poeminha independente

 
 
 
 
Sente
o passeio
tudo
é assunto
 
nesse
presente
o passado
mudo.



Foto tirada no dia 17-junho-2013
Brasília.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Mergulho


 
Acolho
o lado
escuro
 
agora
que o
sei
 
salta
iluminado.
 
Aceito...
 
Para ser,
mergulho.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O passado passeia por mim





Crepita
a fogueira

a memória
é chama.

            No colo,
            a infância
            arde

...vermelha
noite...

Pergunto
ao vento,
 
o fogo
que nunca apagou

será o mesmo
que começou?

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Ponto de vista


Bem de perto
olhei meu rosto
no espelho
 
  Ai!
  Cara de cavalo
  enrugada!

fui me afastando
afastando...

  Ah!
  Que belo cavalo
  dançando.



Bien cerca
miré mi rostro
en el espejo:
 
   ¡Ay!
   ¡Cara de caballo
   arrugada!

 Me fui alejando
alejando…
 
   ¡Ah!
   ¡Que bello caballo
   bailando!


(trad. Suzana Outeiral)

sábado, 9 de novembro de 2013

Outono da lua



Pés não são alados
pisam folhas
que estalam...

A lua cheia
é voraz

seu ofício
não satisfaz,

a falsa branca
nesse outono
quer mais...

O que faz
é incorporar
o dragão na luz

quando chora
é fogo
amarelo...

É outono
tempo de tatuar
a paz nas crateras.


Foto: Jardim Botânico de Brasília com Luli e Lucina

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Passagem submersa



Invado
campos
minados

o risco menor
são os dardos
do esquecimento.

Tombados
estão os ombros

contra a lei
da gravidade

inutilmente
luto.

Tombados
estão
os ombros.

A mente
alça vôos
submersos

nas asas
de uma ave
que contra a luz
rasga o branco  céu.



terça-feira, 5 de novembro de 2013

Dias de paz

 
 
 
 
É outono
o chão é roxo                                          
olhos paisajam sonhos.

A paciência trabalha
cintila sob os pés

onde esmago
os calos
do inverno.

domingo, 3 de novembro de 2013

Abandonada lucidez...



No passeio
o tapa
de um passado
 
no banco,
abandonado...
 
A luz
é fiapo de sol
 
a memória
mergulha
na sombra
 
a lucidez
não precia de mim...
 
*********
 
on the ride
the slap
of a past

in the bank,
abandoned ...

light
is a sun wire

memory
plunges
in shade
 
lucidity
need not
from me.

Os anjos cochilam...



Um coco
rolando
na terra do mar

rolando nas mãos do negro
que enrola os cachos negros
sobre a cabeça que rola negra
sobre o negro mar...

Há lugar?
Ou vida é só
derivar...

No porto o velho que já voltou
ento uma cantiga de ninar...

   Dorme snaila
   menina blue

   é hora de sonhar com os anjos
   os anjos que são cães

O velho e o moço
adormecem

vara na mão,
desarmados...

sábado, 2 de novembro de 2013

Calos





Inútil esteira
bacia com água morna
 
meus pés preferem
 abrir caminho
na mata do medo
 
minhas mãos arrancam
os elogios da memória.




(trad. Suzana Outeiral)
Inútil estera
vasija con agua tibia,
 mis pies prefieren abrir camino
 en la selva extraña
 mis manos arrancan
los elogios de la memoria.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Leve noite


Acordo
anoto o poema
da noite.
 
Sonhando
faço versos
livres.
 
*******************
 
Fez silencio no peito
a cara calou seus trejeitos
um gesto confiante
recebeu a noite
 
      os sujeitos de dentro
      adormeceram.


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Que mares aguardam os outros...



 



O que me importa os homens

seus guardas- chuvas

suas caras transtornadas

sua melancolia

idiotices

suas lágrimas...

 

o que me importa

mundos

que não navego...

 

Borrada

é a espera

pela janela...

 

Quando a viagem instiga

meus olhos fecham o mundo

e sonham.


...ontem, no engarrafamento, entardeci cruel...

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Deitada na sombra



Flexas antecipam
meu precipício.

Descubro imagens
para driblar o suicídio

... Morte dos olhos vivos...

É preciso mais que lembranças
para afastar a queda

mais que morte
para afastar a lembrança
dos olhos vivos...

Tudo é precioso,
a rede e a vida
que na rede se cochila...

Estar atento
é um instante de esquecimento
de si.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Outro papo



Do porto
inventei o mar
 
no mar
o papo foi outro
 
inventei
um porto...
 
De volta
nada é pouco
 
o mar
é o mar... é o mar...é o mar...


*************

The port
invented the sea
at sea
The talk was another
invented
a port ...
Back
nothing is little
the sea
is ... the sea is the sea ... the sea is ...

Asa partida



Estou indo
tecer
montanhas...

Minas
conheço bem
nossas reservas

   meu lado sombrio
   minha asa partida...

Deuses e anjos
de repente

adormecem
entre teclas

e viajam
sagrados destinos...

domingo, 27 de outubro de 2013

Desejo

 
Cris Bastos

                                                                                                             

Me devolva a festa
limpidez do sugerido

nada muito branco
no claro demais
os olhos se intimidam.

Me permita a brasa
dos braços que se roçam

leve o desejo
a passear na tarde morna

cada olhar
aos monumentos
será lânguido...

No café,
o vinho

lábios
buscam copos

adiando
ainda...

Parta
leve o fogo
a incendiar os sonhos...

No outro dia,
brando

telefone
e
chore...


Na foto...       Olhos de Ana


sábado, 26 de outubro de 2013

Leve


 
Hoje
nada
de filosofia
 
quero
mãos
dadas
 
uma
breve
poesia.
 
 
Na foto, eu e meu eterno amigo, Rei Simões. Tirada com disparador automático.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Corpo de vôo




   Ave
   com
   asas
   largas

recolhida

   é presa
   do próprio
   peso

Desatino

 

 
A noite
pintou imensa
sobre o arco-íris
 
a lucidez
bateu asas
e babau...
 
Pernas
pra que te quero asas...
 
Vida,
pra que te quero...

Gente boa

 
 
 
Não tenha medo
não morde,
 
o silencio
 
só espia
por dentro.
 
Deve ser
imenso
 
para calar
tantos segredos.

 
 
 
Na foto, Ana Bastos Rocha e André

  
 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Sim



Enfim
 
Tudo
em
mim

Textos à toa

Aqui, meu canto de escritos por aí...Gravados em pedras...Riscados na areia...Partilhados no face...
Esquecidos em bloquinhos ...guardanapos... Textos à toa...



Em alguns momentos de nossas vidas perdemos o olhar mágico.
Esses são os dias mais perigosos.
É quando o tempo, a velhice e a solidão, parecem ter um peso imensurável e irreversível.
Reencontrar o vôo das horas iluminadas
é nossa tardefa dos dias.
Uma vida sem magia é seca e rancorosa.
Deixa brincar a criança
no riso da eternidade do agora.
 

********************

A poeta anda confusa... Com tudo... Quase todos... Fazia tempo que não sentia esse desânimo com a superfície do mundo. Vinha trafegando por ela como alguém que no início teve que tomar um remédio amargo e aos poucos até passou a achar gosto belo.  Saia... pintava os lábios, voltou a sonhar com abraços... Se perguntada, deitada na cama, olhando o teto, não saberia dizer a hora exata em que o mel virou fel. Ela abre a janela do quarto... O céu é de um azul que venta.  Escreve um bilhete pra filha: tem macarrão no forno, te amo. Fecha os olhos e se dirige para a caverna. Sabe que estocou pensamentos para muitas vidas.  Abre a porta, nenhum cômodo está empoeirado e lentamente hiberna.

********************

Não... não gosto da poesia rasa, aquela que navega em piadas ou naufraga em adjetivos.
Não gosto e não finjo.
O verbo é pedra rara...
Encontrar e lapidar é ofício.

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Os prolixos que me perdoem, mas ou você é poeta ou narrador. Assuma sua prosaica narrante vida, crie contos...escreva aquele mágico romance... Um poeta megulha no máximo , dizendo o mínimo. Andarilho com muita bagagem exposta , é turista.

*************************

Um longo verso, intenso, não é menos...... nenhuma palavra é inútil quando o mergulho é profundo.

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Sabe como vejo a reencarnação ? Assim... Nossa primeira encarnação foi na barriga da nossa mãe, dessa, temos pouquíssimas lembranças reais, talvez fragmentos de sensações... Depois bebês... já lembramos um pouquinho mais, alguns traumas ficam, ternuras também. Então vem infância, adolescência, vida adulta em várias fases e se a gente der sorte, velhice, mais velhice e morte. Da última reencarnação é da qual mais temos lembranças. Dizem que o que vivemos agora é decorrente das nossas  encarnações passadas, pensando da forma como penso, não tenho dúvidas. .. Minha última encarnação foi há menos de um segundo atrás...me lembro de tudo e só estou aqui escrevendo porque na encarnação passada, de um minuto atrás, decidi escrever.
 
 *********

Sabe o que é uma boa vida?
Ter na lápide ou memória escrita, aqui está a mãe, que enterrou a mãe e nunca enterrou um filho.
Simples assim. (:
 
************************
Estou solteira há alguns anos. Convivo bem com minha solitude.
Sabe do que mais sinto falta ?
De rir juntos.

Não tem nada mais gostoso do que rir com alguém.
Rir de um filme bobinho...uma risadinha chamando outra que chama outra e as risadas continuando... trilha à fora...
De repente rir da própria dor e o outro rindo também e tudo desimporta...
Longos caminhares de risos..
Envelhecer sorrindo...chegar tempo de rir baixinho...uns dias mais contidos...e no final...unidos,
uma longa risada que gargalhe o mundo e encerrar...sorrindo... uma jornada.

Só disso...só disso, sinto falta (:

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A primeira vez em que me chamaram de “Senhora”, foi tipo assim...um susto... de repente eu era uma moça e virei ‘senhora’. Olhei pra cara da mocinha lindinha de no máximo 18 anos e não acreditei que era comigo. Olhei pra trás ...quem sabe alguma velhinha...nada...era comigo mesmo. E a mocinha lá...me encarando com aqueles olhos de 12 anos... “Senhora, vai querer troco?” Acho que gaguejei na hora e... disse não minha filha, pode ficar. Fui pra casa e pensei seriamente numa cirurgia plástica...me decidi por uma viagem ...Isso já tem muitos e muitos anos...Hoje fico feliz quando me chamam de você e se referem a mim , como...aquela moça ali...Mas nunca vou me esquecer do espanto da primeira vez...Senhora.? É a pqp...Enfim...isso eu nunca disse..:)))) disse não minha filha, pode ficar. Fui pra casa e pensei, nada seriamente, numa cirurgia plástica...me decidi por uma viagem.
Isso já tem muitos e muitos anos...Hoje fico feliz quando me chamam de você e se referem a mim , como...aquela moça ali...Mas nunca vou me esquecer do espanto da primeira vez...Senhora.? É a pqp...Enfim...isso eu nunca disse..:))))



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Cachimbo da paz


Um anjo invernava
poeira passava
por seus cachos

meditava
versos
obscuros

de vez em
quando
um cacho duro

antenava
tamanhos
absurdos                                                    

que o anjo
perguntava,

se eu voltar
verão

em que
vou cravar
minha espada.


 
Grande Gabriel!!!!